Cyberbullying: como prevenir que seu filho seja um “buller” e se for vítima, como agir?

Ahh, mas o “bullying” sempre existiu. Quem nunca, não é mesmo?

Segundo a Lei 13.185/2015, bullying é “todo ato de violência física ou psicológica, intencional e repetitivo que ocorre sem motivação evidente, praticado por indivíduo ou grupo, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de intimidá-la ou agredi-la, causando dor e angústia à vítima, em uma relação de desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas”.

De acordo com ela, o bullying se caracteriza quando há “violência física ou psicológica em atos de intimidação, humilhação ou discriminação”, ou ainda, ataques físicos; insultos pessoais; comentários  e apelidos pejorativos; além de ameaças; expressões preconceituosas; isolamento social consciente e premeditado; e pilhérias; e é classificado de acordo com as ações praticadas, podendo ser verbal, moral, sexual, psicológico, físico, material (furtos, roubos, destruição de pertences) ou virtual, mais conhecido como cyberbullying.

Com frequência, esses atos são revestidos por brincadeiras, o que pode dificultar a percepção da prática, inclusive entre os próprios envolvidos. De um lado, um achando que sua brincadeira não está fazendo “tão mal assim” e do outro, a sensação de que “será que não estou sendo muito sensível, bebezão?”. Justamente pensando nisso, o legislador previu expressamente que pilhérias (isto é, gozação, algazarra, graça) também são formas de bullying. Assim, a inclusão de pilhérias nesse rol, ajuda no combate ao bullying, notadamente porque retira, prontamente, a escusa de “brincadeira” do agressor. Essa ressalva do legislador também auxilia a própria vítima, se tiver orientação a respeito, que não ficará constrangida ao falar com seus pais e educadores que não gostou da “brincadeira”, o que poderá romper com umas das grandes barreiras do bullying, o silêncio.

Estudos apontam que tanto meninos como meninas são praticantes de bullying, sendo que os meninos são mais tendentes ao bullying físico e as meninas são mais propensas a bullying com violências verbais.

Qualquer comentário, característica física, descendência, atitude, etc. pode ensejar a prática de bullying. Porém, estudos apontam que os principais motivos que ensejam a prática são, além da cor, a religião, aparência do rosto, aparência do corpo (especialmente entre alunos que se declaram muito gordos ou muito magros), orientação sexual e região de origem.

Bullying na potência máxima: Cyberbullying

— Eu fui de uma pessoa anônima para alguém publicamente humilhada no mundo todo. Havia um ataque de apedrejadores virtuais. Fui classificada como uma vagabunda, uma vadia. Perdi minha reputação e minha dignidade e quase perdi minha vida. Há 17 anos não havia um nome para isso, mas agora podemos chamar de cyberbullying[1].

1995: Monica Lewinsky, estagiária, foi pivô de um dos escândalos mais conhecidos da Casa Branca, envolvendo traição, mentiras, processos e até pedido de impeachment do, à época Presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton. Recentemente, Lewinsky contou sua história em uma palestra, mostrando como a Internet, naqueles anos já distantes, foi utilizada para devastar sua honra e imagem: “a atenção e o julgamento que recebi – não a história, mas o que eu pessoalmente recebi – foram sem precedentes. Fui rotulada como vadia, puta, vagabunda, prostituta, interesseira e, claro, como “aquela mulher”. Eu era vista por muitos, mas na verdade conhecida por poucos. E eu entendo: era fácil esquecer que aquela mulher tinha uma dimensão, tinha uma alma e que antes estava intacta”[2].

Com seu depoimento, Lewinsky colocou um holofote a um problema gravíssimo que afeta um número incontável de pessoas, especialmente crianças e adolescentes: o cyberbullying. Fatalmente, se na época em que Lewinsky foi exposta o dano era alarmante diante da reverberação de notícias ao seu respeito, hoje, mais de 20 anos depois, o cyberbullying é ainda pior, porque qualquer um pode publicar conteúdos na Internet e atingir milhões de pessoas em segundos, em blogs, sites e redes sociais, sendo que os danos experimentados por crianças e adolescentes, vítimas de bullying, pode ser tão severo ou ainda pior que aquele experimentado por Lewinsky, que contava com 22 anos.

O cyberbullying pode ser compreendido como o bullying praticado em ambiente virtual, on-line. Ele não tem fronteiras, não tem limites, quaisquer que sejam, pois, acreditando que estão sob o manto do anonimato, inicialmente propiciado pela Internet (mas que pode ser afastado com medidas jurídicas), os agressores se multiplicam e não possuem identidade. A vítima não consegue dimensionar o dano e o agressor, estão em todos os locais, a todo tempo.

Como afirmou Lewinsky, “a tecnologia ampliou o eco da vergonha”, pois enquanto o bullying era restrito à escola, ao clube, à família, o cyberbullying alcança todo o mundo, sendo que “quanto mais humilhação, mais cliques e quanto mais cliques, mais dólares são ganhos com publicidade. Estão ganhando dinheiro às custas do sofrimento”.

Relatório publicado pela Childline em 2015 revela que em 2014 quase 45 mil crianças relataram casos de cyberbullying, sendo que, acredita-se, esse número é apenas uma parcela da prática lesiva, pois a maioria das crianças e adolescentes não revelam o problema, e, agravando esse cenário, pesquisa da ESET demonstra que a maioria dos pais desconhece a prática de cyberbullying.

Mas afinal, o que fazer diante do bullying?

A melhor maneira de prevenir e combater o bullying é quebrando o silêncio, abordando o tema na escola com pais, alunos, professores e todos os demais colaboradores que interagem com a comunidade escolar (tio da cantina, da porta, do pátio, do transporte escolar…), a fim de conscientizar, evitar e conter a prática lesiva, que é justamente o escopo da legislação. Por isso, a prevenção e rápido diagnóstico do problema são fatores essenciais para o êxito do Programa de Combate ao Bullying.

Assim, se a criança ou adolescente sofrer ou presenciar o bullying, deve buscar orientação junto aos seus pais e educadores, os quais, por sua vez, devem agir promovendo o auxílio psicológico, jurídico e social que demandar os envolvidos, acolhendo e orientando vítima e agressor, para cessar a prática e coibir os danos.

Pais

  • Se seu filho é o agressor, não se oculte. Mostre a ele que atos de perseguição e violência não são toleráveis e acompanhe a vida do seu pupilo de perto, conhecendo seus amigos, inclusive os virtuais, seus interesses e necessidades, mantendo ou restabelecendo um diálogo aberto. Se for preciso, busque auxílio profissional.
  • Se seu filho é a vítima, acolha-o para que ele aponte o que lhe aflige, possa auxiliar a identificar os agressores e voltar a se sentir seguro e amparado. Busque o diálogo e se o agressor também for uma criança ou adolescente, converse com os respectivos pais e educadores, para que possam encontrar a melhor solução.

Em quaisquer dos casos, os pais devem orientar o caminho de seus filhos, inclusive aqueles percorridos pela Internet, o que pode ser feito com diálogo aberto e com softwares de controle parental (ferramenta auxiliar), buscando manter a segurança da vida on-line.

Dicas de segurança que ajudam a combater e prevenir o bullying e o cyberbullying

  • Mantenha atualizado o software antivírus e de controle parental. Eles poderão auxiliá-lo a identificar se seu filho está praticando ou sendo vítima de bullying.
  • Defina regras claras sobre o uso do computador, celulares e outros eletrônicos. As regras que valem fora da Internet também são válidas no mundo virtual.
  • Seja vigilante e acompanhe a conexão de internet do seu filho: verifique o histórico de navegação e converse sobre os conteúdos acessados e publicados.
  • Configure a privacidade das redes sociais utilizadas por seu filho.
  • Controle o uso da webcam: quando e com quem pode ser usada. Mantenha a webcam desligada ou coberta quando não estiver em uso, pois, a partir de um malware, terceiros podem acessá-la remotamente, sem que você saiba, e isso poderá ensejar uma série de consequências desastrosas, entre elas o bullying.
  • Instrua seu filho sobre regras na Internet, mostrando o que não deve ser veiculado, seja porque diz respeito à intimidade dele ou do colega; seja porque é ofensivo, ameaçador, ilegal ou imoral, de alguma maneira.
  • As informações postadas na Internet não têm devolução. Todos devem pensar duas vezes sobre que o que veiculam na Internet. Oriente e evite que seu filho pratique ou sofra o cyberbullying.

Mas, que não seja por determinação legal, por receio de ser punido ou ter a reputação comprometida, mas pelo bem geral da coletividade, pelos jovens que representam o futuro da nação. Que o amor e respeito ao próximo sejam objetivos de todos.

Filho, você não precisa achar todo mundo bonito e legal, mas deve respeitar a todos!!!

Por Alessandra Borelli e Emelyn Zamperlin

[1] http://oglobo.globo.com/sociedade/eu-estava-farta-diz-monica-lewinsky-sobre-cyberbullying-15649550

[2] http://www.brasil247.com/pt/247/revista_oasis/177163/Monica-Lewinsky-O-pre%C3%A7o-da-vergonha.htm

 

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